Bolitos

Gabriel era louco por bolitos. Que?!, não conhece? E um salgadinho desses que vem em pacotinho. Feito de trigo. Uma bolinha. Tem sabor pizza, camarão, queijo. Minutos antes do intervalo pra aula, a boquinha de Gabriel já salivava, pois sabia que em pouco tempo, teria um monte dessas deliciosas bolinhas na boca. Era só descer correndo as escadas do colégio, bem rápido, pra chegar na cantina antes de todo mundo e dizer -``Tia me dá um bolitos por favor!``. Pacotinho na mão, agora era só se deliciar com o lanche enquanto caminhava pelo pátio.
Dentre os coleguinhas que perambulavam pelo pátio, muitas eram as mãozinhas que se estendiam aos donos de salgadinhos dizendo:``Dá um pouquinho pra mim?!``- Mas isso não importava pro generoso Gabrielzinho. Contando que ficasse o finzinho do pacote pra ele. Ah, o restinho é que é bom, é onde sedimenta todo o sal do salgadinho, e depois de comer era só lamber os dedinhos e pronto. Se a mão sujasse era só limpar na calca. Na quinta série não tem muito com o que se preocupar.
Um dia no recreio, a fome era tanta, que Gabriel pediu dois pacotes, o segundo estava acabando quando tocou o sinal. Pacotinho na mão, Gabriel sai correndo. Não porque era um aluno com ânsia de estudar, mas porque sair correndo é que era legal. Correndo e gritando. Na hora de fazer as curvas, imitar com a boca uma derrapagem de pneus, só pra assustar as professoras. Todo guri do colegial é meio anarquista por natureza sabe?
Assim que ele se acomodou na carteira, lembrou do pacote de bolitos ainda pendente na mão. Estava já no finzinho, e sabendo que a professora estava pra entrar, não teve dúvidas e enfiou como pôde todo o resto do pacotinho na boca. Tinha mais salgadinho do que boca. Não dava nem pra falar. Mas não dava pra deixar pra depois, não o finzinho, a melhor parte. Nesta hora que entrou a professora, e vendo Gabrielzinho com a boca como quem quer evitar de expelir um vômito, e todo esbaforido da corrida perguntou..``O que foi Gabriel?``. O menino tentou responder. Mas a boca estava muito cheia. Mesmo que mastigasse, havia sempre mais no canto das bochechas. Assustada, a professora pegou ele pelo braço e saiu correndo pelo corredor do colégio em direção a sala da diretora. Gabriel coitadinho pensou em cuspir tudo fora, mas achou que não seria educado.
Nem precisou correr muito, os dois encontraram a diretora no corredor. ``Meu Deus, o que tá acontecendo com esse menino?``. A essa altura, Gabriel já tinha conseguido mastigar um pouco mais e tentou responder..``É que eu o cô a oca eia e o i os!`` - ``Que? Fala logo menino, o que tá acontecendo com você?! – Gabriel se enfezou, cuspiu tudo no chão, na frente da professora e da diretora.-``É que eu tô com a boca cheia de bolitos, PORRA!!!
No final do mês, no boletim de Gabriel veio escrito em vermelho: “Falta com educação para com os professores”.