Dia da árvore

Os invernos passaram. As flores passaram. Tudo passou. Por mais que ele andasse pela rua, eram em seus sonhos onde ele encontrava pegadas dela. Ela se casou. Talvez tivesse filhos. A vida continuou para ele que não se sentia menos feliz por estar só. Belo dia, então, o vento soprou eles dois através das folhas de outono recém caídas e os fez se encontrar sob o cafezal. Foi aí que o que fora sombra agora se fazia rocha sólida e firme. A semente se tornara árvore frondosa. Algo forte, porém suave. Uma nuvem. Suspiros nas mentes dos amantes. Ela agora estava casada. Mais uma vez suspiros.
Ele um dia juntou seus cacos e se foi, seguindo confiante no amor que sentia por ela, mas as lembranças não conseguiram se calar e a luz do sol de cada dia lembrava o brilho no olhar dos olhos dela. Por mais que tentasse não conseguia esquecer. O amor agora transformado em carinho era tudo que ele poderia dar. Pois ele queria dar. Pois senão não seria amor verdadeiro. Algo que nasce e morre sem nunca viver, em verdade nunca existiu. O nada só pode criar o nada. Esse não era o caso. Aquele sentimento teve que ser transmutado para que ele pudesse viver. Foi por isso que ele se encheu de ternura e carinho para ela.
Assim, neste dia, se descobriu que nada no mundo poderia ser mais forte do que a árvore que nasceu e cresceu entre os dois. Um dia os amantes olharão para a árvore, já no fim de suas vidas, e dirão: “Eis nossa árvore. Nada houve para derrubá-la. Ela cresceu firme e forte independente de nossa vontade. Relembremos agora, se fomos sábios com nossa árvore ou agimos feito crianças”, e se alegrarão por a ter tratado tão bem. Desta maneira, cada dia em que forem celebrar seu encontro celebrarão o dia de sua árvore. Dia da árvore.
Hoje, os amantes olham para sua árvore com pesar. Como pais que olham para o rebento com uma mistura de afeição, medo, ansiedade e preocupação. Não sabem o que fazer com sua árvore. E as folhas do outono da vida seguem caindo...