sábado, 6 de junho de 2009

Galáxias

Sentiu o vento no rosto e nos cabelos. O ar gelava seus pés. O vento, sempre o vento em abraço voraz que à todos acalenta. Especialmente ela. Especialmente nessas horas. Dias de vento gelado, quando o vento dança e o sol olha. Dia de olhar pela janela e tentar ver o mais longe possível. Ver além da cidade. Além das montanhas depois da cidade. Além das nuvens depois das montanhas. Cada vez mais longe para poder ver cada vez mais para perto dentro de si.
O frio a fez encolher os ombros. Sorveu um gole de café e sorveu o mundo todo. O mundo todo ali simplificado em suas pernas cruzadas e seu cigarro aceso. Todo o seu mundo.
Então, tudo se fez momento mágico e o que fizera sombra em sua vida foi sublimado. Momentaneamente esquecido. Obliterado pela luz do dia, pelo frio, pelo café, até tudo se fazer nova dimensão para ela e por ela. E foi assim que o dia foi retirado dentre os dias comuns para ser um outro tipo de dia, promovido por todas essas coisas que o faziam belo e que a faziam tão bela, toda a cidade virou luz e as pessoas vento.
Carros. Prédios. Cadeiras. Blusas. Sorrisos. Gestos. Xícaras. Ambulantes. Pedestres. Cafés. Tudo. Tudo nasceu naquele dia e para aquele dia exclusivamente. Um universo ali se fez, para ali se desfazer, para no pequeno lapso de sua micro-existência ser perfeito. Perfeito como ele só. Perfeito como um sorriso. Perfeito como o imperfeito. Perfeito como ela sorrindo para o sol. Toda majestade do Criador expressa em seu olhar.
O novo universo durou horas naquele dia e foi tão significativo quanto qualquer outro cheio de estrelas e galáxias. Ele nasceu e morreu no intuito de fazer brotar no universo interior dela uma estrela que nunca se apaga e brilha infinitamente no céu de suas lembranças.
Eu sei porque estive lá. Fico me perguntando como seria se houvesse espaço pra mim em sua constelação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todo comentário deve ser previamente aprovado pelo meu cachorro, o Bazuca.