terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Só você mesmo

Queria ser prostituta. No seu íntimo mais interior. Queria ser prostituta. Era obsedada por este pensamento. Até que, por recomendação de um novo psicanalista homossexual que insistia que todos deveriam dar vazão à todo e qualquer impulso, resolveu ser uma. Entrou em um site com catálogo virtual de meninas de programa. Viu as fotos. As poses insinuantes. Era muito mais bonita que muitas ali. Pensou consigo mesmo que poderia ter uma foto também. Procurou um telefone de contato no site. Não achou. Ligou, então, para uma das meninas, pediu orientação de como ter suas fotos inseridas no site. A moça do outro lado da linha não foi muito solícita, mas acabou dizendo um nome e um número. Ela escreveu em um pequeno papel, mas não teve coragem de ligar. O papelzinho ficou na porta da geladeira por algumas semanas. Até que tomou coragem e ligou. O homem ao telefone marcou um encontro em um café. Culto e refinado tratou-a como uma princesa. Embora só quisesse conferir o material. Teste aprovado. Marcou para aquela mesma semana uma sessão de fotos. O fotógrafo disse que faria em sua casa mesmo. Ela não poderia deixá-lo ver o padrão social que ostentava, por isso, ao invés disso, marcou em um motel na rodovia na saída da cidade.
Sentiu-se muito bem fazendo as fotos. Um frisson. Um arrepio.
Ficou linda nas fotos. Era linda. Na mesma semana as fotos estavam na internet. Ficou admirando suas fotos on-line. Um sentimento de arrependimento começava a lhe assombrar, porém. Tinha comprado um celular só para as chamadas da nova profissão e também específicado o horário de atendimento: das nove da noite até às duas da manhã.
Ás nove horas e doze minutos de uma terça feira em que tinha recém saído da academia recebeu a primeira chamada. Seu coração pulsou forte. Marcou na mesma noite na casa do cliente. Comprou roupas que combinavam mais com a profissão. Vestiu-as. Chamou o taxi. Entrou no taxi. Chegou à casa. Apertou a campainha. Ouviu passos vindo pela calçada do jardim. Eram de seu cliente. Neste momento gritou para si mesmo: Meu Deus, onde estou com a cabeça? Depois saiu correndo sem olhar para trás.
O psicanalista disse que não era pra ter ido tão fundo assim. As amigas chamaram-na de louca, mas riram muito dizendo para ela: Só você mesmo...

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