domingo, 9 de agosto de 2009

Chuva

Pulou até a outra marquise para não se molhar. Ia assim: correndo e parando, mas a rua estava tão cheia. Tinha que chover logo na hora de sair do trabalho? Não havia espaço na calçada. O teto das marquises era disputado palmo à palmo por todos que foram pegos desprevenidos sem guarda-chuva. Aproveitou que o trânsito parara pelo sinal vermelho e se desatou a correr pelo meio da rua sob a chuva. Chegou ao outro lado todo molhado. Pisou na calçada quase correndo. Deu mais três passos e passou para dentro do prédio velho e sem pintura através da porta de vidro e metal com tinta verde.
Subiu correndo as escadas. Só pensava em trocar a roupa molhada e em um banho quente para não gripar. Que alívio estar em casa. Tirou a roupa. Estendeu-a no varal ainda cheio das roupas que a mulher lavara ontem. Tomou seu banho. Colocou roupas de ficar em casa, mas sentiu vontade de comer bolachas. Verificou no armário da cozinha. Não havia bolachas. Foi verificar pela janela da sala se a padaria logo à baixo de seu apartamento estava aberta. Bastava olhar para a calçada logo abaixo e ver se havia reflexo da luz que irradiava de dentro da padaria. Olhou a calçada. Havia reflexo. Foi pegar o guarda-chuva e dinheiro para as bolachas. Enquanto pegava sua carteira na cômoda do quarto escutou a chuva virar um temporal. Através da janela da sala entrava muita chuva, como se agora chovesse na horizontal. Correu para fechar as janelas. Viu as pessoas sob as marquises sendo encharcadas pela chuva que agora parecia vir de todas as direções. Elas corriam para dentro das lojas tentando inutilmente se proteger, posto que a essa altura já estavam molhadas. Ele chegou a achar engraçado. Resolveu esperar a tempestade passar para saciar sua vontade.
Sentou nos sofá para esperar. A televisão não pegava. Que chuva! Ficou sentado onde estava olhando as gotas de chuva se chocando contra o vidro da janela. A tempestade parecia aumentar. Olhou mais uma vez para a rua. Não conseguiu ver nem pessoas nem carros. A força do clima havia feito mesmo o trânsito parar. É a maior chuva que já vi! Subitamente a tempestade parou. Levantou-se, verificou a carteira já dentro do bolso e foi em direção à porta. Droga! A chave estava emperrada. Teria que esperar pela esposa ou chamar um chaveiro. Até lá, estava preso dentro do próprio apartamento. Resignou-se. Voltou a olhar pela janela. Achou estranhamente engraçado que ainda não havia ninguém ou algo se movendo lá fora. A chuva levou todos pelo bueiro! Pensou consigo rindo por dentro. Desistiu e foi se deitar. Era cedo, mas tudo convergia para um bom descanso. O trabalho. A chuva. O trânsito. O cansaço. Muito pelo o cansaço. Antes de fechar os olhos lembrou da cena de um filme que tinha visto ontem.
Abriu os olhos. Pelos seus cálculos tinha se passado cerca de duas horas. Não escutou os barulhos que a mulher costuma fazer quando está em casa. Tentou ligar para a esposa. Ninguém atendia. Foi até a sala. Ainda ninguém na rua. Ainda sem sinal na televisão. Súbito um arrepio lhe percorreu a espinha: sentiu-se profundamente só. Tentou ligar para alguém. Nenhum amigo atendeu. Ninguém da família atendeu. Pensou ser o telefone. Ligou à esmo para os números. Ninguém atendia. Ligou do telefone fixo em seu apartamento, ainda assim, todos no mundo aparentavam ter sumido. Abriu bem a janela do quarto. Colocou meio corpo para fora. Olhou até o fim da avenida em que morava. Não viu nada. Nem um ser vivo. Nada. Sentia calafrios. Correu para a janela da cozinha que dava para a rua lateral. Ainda nada. Voltou para a janela da sala. Viu os reflexo da luz da padaria. Gritou. Ei! Ei! Ninguém apareceu. Sentiu-se horrorizado. Nesta hora gritou irracionalmente. Seu coração palpitava. Não sabia se sonhava. Mônica! (continua...)

Um comentário:

  1. Se estava sonhando, esse é o pior dos pesadelos- estar completamente só... Pior do que sonhar que foi pra escola de pijama.
    Credo.
    Conta logo esse final!

    ResponderExcluir

Todo comentário deve ser previamente aprovado pelo meu cachorro, o Bazuca.