quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Chuva 2 (continuação)

Correu entre os quartos. Pensou em se jogar pela janela. Batia com as mãos nas paredes. Pensou em fazer uma corda com lençóis para descer até a rua, em algo para arrombar a porta.
O mais estranho era o silêncio. Um profundo silêncio que a ausência do trânsito e das pessoas na ruas causavam. Ainda por cima estava preso dentro de casa. Sentiu os joelhos fraquejando e dobrou-os involuntariamente prostrando-se ao chão. Apesar de não ser muito espiritualizado, nesta hora disse com toda a verdade da alma: Deus! E começou a chorar. Queria acordar deste pesadelo. Inexplicavelmente todos tinham se ido. As paredes. A janela muito alta. A porta trancada. A televisão sem sinal. O telefone mudo.
Lembrou dos dias em que secretamente desejava estar só no mundo, então uma profunda calma o tomou por completo.
Onde pudera todo o mundo ter ido? Este mundo que nos choca. Que comove. Que atrapalha. Que anima. Que é dádiva. Que é maldito. Por que tudo terminar assim com ele preso dentro do apartamento, sem nenhuma alma para abrir-lhe a porta? Ou para responder – por que está à gritar assim como louco em sua janela? Quem são os que por nós cruzam todos os dias? A existência dos outros nos faz saber que nós mesmo existimos. Os outros nos fazem dar provas de nós mesmos, mas nós mesmos não somos nada sem alguém. Por isso tudo sentiu como se não existisse. Chorou ainda mais. O pavor o entorpecia. Não tinha forças para nada a não ser chorar. Nem para arrombar a porta, nem para fazer uma corda. Mônica! Deitou ao chão. Mônica! Dormiu exausto.
Já de madrugada achou forças para pular a janela. Foi até ela para medir a distância até o chão. Ainda não acreditava no que acontecia. Deu mais uma olhada para o longo da avenida procurando algo. Viu uma pessoa bem ao longe. Calmamente atravessava a rua com um cachorro na guia. Aquela visão foi um bálsamo para a alma. Creu que o pesadelo acabara. Ei! Ei! Gritou com todo o ar dos pulmões. Foi quando da padaria responderam: Ei! Ei! Olhou para baixo. Um grupo de quatro adolescentes saia da padaria conversando e rindo alto. Assim a voz virou um coro e todos os quatro gritavam Ei! Ei! Riam entre eles. Riam dele. Uma lágrima correu pelo seu rosto e caiu no parapeito da janela. Neste momento escutou um barulho de chave na porta. Mônica! Oi, amor! A chave emperrou de novo, não é? Ai, eu falei que ia emperrar novamente. Espere aí que eu acho que consigo pegar o chaveiro aberto se sair correndo agora. Espera aí, amor. Tem bolacha no armário da sala! Já volto. Barulho de salto-alto descendo as escadas. Tá bom. Não vou a lugar nenhum! Ele disse baixinho para si mesmo.

Um comentário:

Todo comentário deve ser previamente aprovado pelo meu cachorro, o Bazuca.