quarta-feira, 20 de maio de 2009

Blue mondays ou como descobri que não era louco mas um escritor.

Demorei anos sentando em cafés pra descobrir o que fala o título desta crônica. Na verdade tudo começou na virada deste milênio, quando pela primeira vez sentei em um café. Não poderia ser antes por que na pacata cidade do interior de onde vim não havia cafés. Vaguei por muitos cafés em minha vida. Não necessariamente vaguei, mas me perdi entre bancos e xícaras de café. Não necessariamente me perdi, pois, se alguém me olhasse da rua constataria: “Ele está sentado em um café”. É física pura. É lógico. Entretanto eu nunca estive realmente lá. Estava perdido em pensamentos.
Sempre vivi em um mundo particular. Sempre achei que meus pensamentos não correspondiam ao resto do mundo. Não se enquadravam. Quando era adolescente cheguei a pensar que todos eram loucos. Mas vi que todos eram iguais. Então cheguei à conclusão de que louco era eu. Depois amadureci e vi que todos tem um quê de loucura, numa beleza idiossincrática irreproduzível, tão sutil quanto um murro na cara. Então, constatei novamente que ainda assim não me enquadrava, não preenchia espectativas, logo, conclui que era ainda mais louco do que pensava.
Lutei contra esse pensamento muitos anos. Tentei ser normal. Comprei ternos de lã fria super 130, sentei em charutarias e discuti o preço de ações. Tudo isso aumentou a impressão de que era louco. Ouvi um ditado uma vez que dizia: “Se quiser conhecer o frio, passe calor. Se quiser conhecer a riqueza, seja pobre”, assim por diante. Faço um adendo ao texto de autor incógnito para mim: se quiser conhecer a loucura seja normal. Talvez você leitor se pergunte agora “ mas afinal o que ele quer dizer com 'louco' ”? Bem, que pergunta capciosa! Isso pode significar que não sou louco coisa nenhuma, é maneira de dizer etc... ora! Deixe minha opinião em paz. Um homem deve ter direito a opinião livre.
Bom, voltemos à crônica.
Sempre tive uma verve meio triste. Uma mistura de Frank Sinatra melancólico com Paul Sartre sentado em um café fumando e filosofando sobre a vida. Não sei nem se Sartre tomava café e fumava, nem se era taciturno. A imagem dele me passa isso apenas. Espere, a definição está pernóstica demais: sou uma mistura de vaca mansa que não dá mais leite e cavalo no cio. Pronto! Uma definição digna de minha terra natal. Aliás, minha terra natal define muito sobre mim. Por lá, as pessoas se autodefiniram como “colonos”, em alusão aos antepassados que vieram da Europa, razão da tez da minha pele. Embora há muito os antepassados já se foram, todos continuam se considerando colonos. Um colono por definição é alguém que deixa sua pátria para colonizar outras bandas. Basicamente é isso que sou: um cara que não sabe direito de onde veio e foi mandado pra sei lá onde e se sente um estranho a respeito de tudo que o cerca. Essa estranhez se dá pelos pensamentos de minha mente: sempre muito rápidos. Desconectados com a realidade. Estranhos. Extraterrestres. Inefáveis. Isso me deixava desconectado dos outros, pois sempre pensei que os outros nunca me entenderiam, e sempre estive certo nisso! Apenas descobri que não preciso ser entendido. Essa desconexão com o mundo ao redor me deixava solitário e triste. Agora sei que não há nenhuma razão para eu não ser um desconectado feliz! Eureka! Descobri a pólvora, a arma, a bala e alguém em quem atirar!
Uma bela tarde do mês de maio, enquanto as noivas do país inteiro se casavam, percebi que custasse o quanto fosse, precisaria tentar explicar a minha loucura às outras pessoas. Talvez isso às ajudasse. Talvez me ajudasse. Talvez enlouqueceria todo mundo. Talvez... sei lá. Quê interessa também? O importante é que você está lendo isso aqui e você deve ser um pouco louco também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todo comentário deve ser previamente aprovado pelo meu cachorro, o Bazuca.